Quantas vezes já recebeu na sua caixa de entrada um pedido para assinar uma petição online? E quantas vezes deixou de assinar uma petição online por duvidar da sua eficácia? Ao contrário do que possa pensar, as petições online podem ter um impacto real sobre os temas que abordam.
Há uns anos atrás seria praticamente impensável que uma jovem estudante de 22 anos conseguisse liderar um movimento que acabaria por levar o Bank of America a rever uma decisão altamente lucrativa – e altamente penalizadora para os seus clientes. Mas foi isso que Molly Katchpole conseguiu, ao criar uma petição online no site Change.org, contra a taxa de cinco dólares mensais que o Bank of America, em setembro, decidira começar a cobrar sobre os seus cartões de débito. Molly escreveu uma carta aberta ao Bank of America, fechou a sua conta, cortou o seu cartão de débito em frente a uma câmara e transferiu o seu dinheiro para um banco comunitário. Um mês depois, tinha reunido 306 mil assinaturas – e o Bank of America acabou por desistir da taxa extra no dia 1 de novembro.
“Há dez anos atrás, se isto tivesse acontecido, o que é que a Molly teria feito? Teria ficado zangada, frustrada e, depois, teria transferido o seu dinheiro para um banco comunitário, em silêncio. Com os media sociais, já é possível conectar outras pessoas e construir um grupo de lobby de consumidores para qualquer negócio ou instituição social”, avaliou Ben Rattray, o fundador do Change.org.
Em quatro anos, o site já levou a cabo mais de 50 mil petições em mais de 30 países. Há cerca de 500 mil utilizadores novos por mês, mais de mil campanhas por semana e pelo menos uma petição alcança o seu objetivo todos os dias. Mas a campanha de Molly foi a maior até à data. Ainda assim, o Bank of America não confirmou se foi a petição de Molly que motivou o fim da taxa: “Recebemos muito feedback dos nossos clientes, dos acionistas e de partes interessadas. À luz desse feedback, e à luz das condições de competitividade no Mercado, decidimos não prosseguir com a taxa”.
Seja como for, duas coisas são certas: primeiro, Molly e os 360 mil nomes que a ela se juntaram venceram; e em segundo lugar, não há dúvida de que os media sociais estão a transformar os movimentos sociais.
Veja-se o caso da revolução no Egito. “Da mesma forma que os panfletos não provocaram a Revolução Americana, os media sociais não causaram a revolução egípcia”, explicou Sascha Meinrath, diretor da New America Foundation’s Open Techonoly Initiative. Mas acrescentou: “os media sociais tornaram-se os panfletos do século XXI, a forma através da qual as pessoas que se sentem frustradas com o status quo se podem organizar e coordenar protestos e, no caso do Egito, uma revolução”. Com uma pequena diferença, claro: a velocidade e o alcance de um tweet ou de um post no Facebook são bastante mais promissoras que as de um panfleto.
O movimento Occupy Wall Street é outro dos grandes exemplos de como os meios sociais podem ser transformados numa arma: “A melhor forma de afastar as pessoas dos seus computadores é através do computador; não se conseguem organizar milhares de pessoas em Nova Iorque [como aconteceu no movimento Occupy Wall Street] sem a internet”, disse também Rattray, num debate sobre o papel dos media sociais na mudança social.
Em Portugal, o melhor exemplo terá sido, porventura, a manifestação de 12 de março, mais conhecida como o protesto da “Geração à Rasca”, organizada via Facebook por um grupo de 4 amigos, e que acabou por conseguir reunir cerca de 200 mil pessoas só em Lisboa, para além dos outros focos do protesto: a cidade do Porto, onde se juntaram perto de 80 mil pessoas, Faro (6 mil), Braga (2 mil) e ainda Coimbra, Viseu, Funchal e mesmo Barcelona, onde cerca de 700 portugueses se concentraram para manifestar o seu descontentamento.
Fontes: Time